28 de junho de 2014

Lábios Que Tremem


 Lábios finos murmurando palavras desconexas nessa imensidão escura, soletrando minha agonia em cantigas simples de amor, embebedando sutilmente minha euforia para um novo presságio. Lábios que tremem livremente quando emitem outro elogio raro ou quando aceitam um agrado, antes de reprimir as emoções novamente, grandes sentimentos em pequenas demonstrações enxutas por minhas aflições.
 Clareia esse vão de coisas apegadas, clareia esse medo opressor, clareia essa vida programada. Como posso reencontrar a minha espontaneidade? Como posso sair dessa virtude danificada? Minha vida já passa e como já passou, e eu ainda estou aqui, atordoada pelo medo e pelas feridas ainda atadas. Intocável esses sentimentos inexpressos...
 Sentimentos intensos, explosivos, vibrantes e calorosos. Altamente destrutivos, autodestrutivos, destroem minha longa muralha impessoal. Mestre na arte de regeneração emocional ou na arte de isolamento sentimental? Como não reprimi-los e sufocá-los e algum lugar em que eles não possam ser sentidos? Sentir muito nunca me fez bem, nem nada em excesso. Medo, o bom, opressor. 
 Expressar-me livre de impedimentos ampliaria minha visão, filtraria minhas decisões. Lábios finos esticados de lado, desprezando essas coincidências inevitáveis, chegando mais perto do que deveria ser. Lábios que esticam palavras que deveriam ser mais simples, palavras calmas, deleitosas e aconchegantes. Nada tão orbitante, nada tão centelha. 

Daniele Vieira

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